segunda-feira, 28 de março de 2011

A Espantosa Realidade das Cousas



A Espantosa Realidade das Cousas

A espantosa realidade das cousas 
É a minha descoberta de todos os dias. 

Cada cousa é o que é, 
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, 
E quanto isso me basta.


Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

                                                                            Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)


Fonte: Jornal de Poesia


segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia Mundial Contra Discriminação Racial



Sendo hoje o Dia Mundial Contra Discriminação Racial, segue uma mensagem para reflexão. Observando o absoluto despropósito e a limitação de qualquer atitude adversa a esse pensamento, abstenho-me de qualquer comentário. A ação basta.


Isso aconteceu num voo de Johannesburgo a Londres.


Uma senhora branca, de uns cinquenta anos, senta-se ao lado de um negro. Visivelmente perturbada, ela chama a aeromoça:

- Qual o problema, senhora? Pergunta a aeromoça.

- Mas você não está vendo? Responde a senhora - Você me colocou do lado de um negro. Eu não consigo ficar do lado destes nojentos. Me dê outro assento.

- Por favor, acalme-se. Diz a aeromoça. - Quase todos os lugares deste voo estão tomados. Vou ver se há algum lugar disponível.

A aeromoça se afasta e volta alguns minutos depois.

- Minha senhora, como eu suspeitava, não há qualquer lugar vago na classe econômica. Eu conversei com o comandante e ele me confirmou que não há mais lugar na executiva. Entretanto, ainda temos um assento na primeira classe.

Antes que a senhora pudesse fazer qualquer comentário , a aeromoça continuou:

- É totalmente inusitado a companhia conceder um assento de primeira classe a alguém da classe econômica, mas, dadas as circunstâncias, o comandante considerou que seria escandaloso alguém ser obrigado a sentar-se ao lado de pessoa tão execrável.

E dirigindo-se ao negro, a aeromoça complementa:

- Portanto, senhor, se for de sua vontade, pegue seus pertences que o assento da primeira classe está à sua espera.

E todos os passageiros ao redor que, chocados, acompanhavam a cena, levantaram-se e bateram palmas.


(Autor desconhecido)


P.s.: Quanto à veracidade ou não da história, isso é irrelevante. 

sábado, 12 de março de 2011

Sobre Friedrich Nietzsche

Complexo, contemporâneo e instigante. O pensamento de Nietzsche evoca reflexões, aparentemente, confusas, mas que, em seu alicerce, revelam grande importância para o entendimento e inserção na realidade do mundo, seja ele qual for. No vídeo abaixo, é possível conhecer, através da atraente palestra concedida pela filósofa Viviane Mosé, um pouco sobre a visão desse alemão que é, certamente, um dos filósofos mais estudados e fecundos.

Documentário da TV Cultura


sexta-feira, 4 de março de 2011

É carnaval

Tempo de folia, de alegria. Época em que as pessoas se reúnem sem preconceitos, afirmando suas tradições e culturas, despreocupadas  com a vida mundana. Vivem o hoje, o amanhã e o dia seguinte, apenas. Uma felicidade contagiante que resplandece os becos, as ruas e as avenidas ao som de ritmos autênticos e viscerais.Todo o mundo mira e se inveja com essa grande festa 'prapular'. Realizada por um povo acolhedor, branco, pobre, alegre, preto, rico, folião, mestiço, brasileiro. Uma gente que responde a toda corrupção e banalização política com a sua capacidade de enxergar a vida assim, com vibração. É fato que temos milhões de problemas. Quem os está negando? No entanto, eles não podem corromper. A atenção e  o esforço para resolvê-los precisam, dentre outros, desse escape chamado carnaval. Celebremos essa alegria plural.

Preta festa santa
Santa fé pagã
A alegria dança até de manhã
Luminosa arte, cria de Olodum
Se o amor se reparte, somos todos um


 

quarta-feira, 2 de março de 2011

Senso Crítico



Cada vez com mais frequência, é comum a propagação, na mídia, de discursos aparentemente messiânicos. Em sua grande maioria, acabam utilizando, contraditoriamente, aquilo que está sendo criticado para se estruturarem. Na realidade, também buscam o engrandecimento de suas  imagens e, assim, o fortalecimento de suas instituições. 

Sem assumir partido prévio, acredito que o fundamental é estar atento e acionar, sempre, o senso crítico a todo conteúdo com o qual se tem contato. Se a finalidade principal da mídia é pautada na lógica econômica, e as visadas informativa e de entretenimento ocupam posição periférica, cabe ao seu público refletir sobre isso e formar seus posicionamentos. Mesmo que haja uma instância de produção midiática superior e predominante, ainda há outras instâncias, o que possibilita a comparação, a discussão e o entendimento pessoal dos fatos apresentados. Portanto, não considero sábia a defesa imediata de informações esfuziantes. Um tempo de revisão sempre é oportuno para que as avaliações não se percam nas emoções. 

Nesse contexto, chego à conclusão de que, por mais que, às vezes, a mídia seja incisiva em suas colocações e até parcial, a responsabilidade é, exclusivamente, do receptor da informação. Cabe a ele se posicionar. Principalmente, acerca desses discursos "messiânicos", cujas entrelinhas atiram em suas próprias direções.