sexta-feira, 27 de maio de 2011

O Tempo



"O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim; é um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo entretanto prover igualmente a todo mundo; (...) rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas, e nem aquele, devasso, que se estende, mãos e braços, em terras largas; rico só é o homem que aprendeu piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é."

Raduan Nassar

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dia Internacional da Dança

Celebração da dança com imagens de duas das maiores dançarinas do mundo: Daniela Mercury e Deborah Colker.










"Quando um de nós dança, é bonito de se ver. Mas, quando todos dançam, o chão balança e, assim, se faz uma revolução."
(Daniela Mercury)

Imagens: Google

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Direito à vida

Questiona-se muito sobre o direito à educação, o acesso a uma saúde pública de qualidade, boas condições de emprego... De fato, todas essas cobranças são pertinentes e devem ser perseguidas por todos. No entanto, algo que antecede a essas requisições e, portanto, deveria estar em primeiro plano, quase sempre, é esquecido. Trata-se do direito à vida. Para que essas reivindicações e tantas outras sejam possíveis, antes de tudo, é necessário ter estima pela vida. Assim como discursa o jornalista Alexandre Garcia, visto no vídeo abaixo, este é o grande ponto de partida que conduz ao pleno poder de ser.



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Terra de Minas

Bela por natureza, Minas Gerais é cantada e apresentada de modo genuinamente poético. Nesta sua canção, Seio de Minas, Paula Fernandes exalta, com delicadeza, a grandiosidade desta terra. Cenário, interpretação, arranjos musicais e produção de filmagem destacam-se para a importância conceitual  desse vídeo.


        Fonte: globo.com

segunda-feira, 28 de março de 2011

A Espantosa Realidade das Cousas



A Espantosa Realidade das Cousas

A espantosa realidade das cousas 
É a minha descoberta de todos os dias. 

Cada cousa é o que é, 
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, 
E quanto isso me basta.


Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

                                                                            Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)


Fonte: Jornal de Poesia


segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia Mundial Contra Discriminação Racial



Sendo hoje o Dia Mundial Contra Discriminação Racial, segue uma mensagem para reflexão. Observando o absoluto despropósito e a limitação de qualquer atitude adversa a esse pensamento, abstenho-me de qualquer comentário. A ação basta.


Isso aconteceu num voo de Johannesburgo a Londres.


Uma senhora branca, de uns cinquenta anos, senta-se ao lado de um negro. Visivelmente perturbada, ela chama a aeromoça:

- Qual o problema, senhora? Pergunta a aeromoça.

- Mas você não está vendo? Responde a senhora - Você me colocou do lado de um negro. Eu não consigo ficar do lado destes nojentos. Me dê outro assento.

- Por favor, acalme-se. Diz a aeromoça. - Quase todos os lugares deste voo estão tomados. Vou ver se há algum lugar disponível.

A aeromoça se afasta e volta alguns minutos depois.

- Minha senhora, como eu suspeitava, não há qualquer lugar vago na classe econômica. Eu conversei com o comandante e ele me confirmou que não há mais lugar na executiva. Entretanto, ainda temos um assento na primeira classe.

Antes que a senhora pudesse fazer qualquer comentário , a aeromoça continuou:

- É totalmente inusitado a companhia conceder um assento de primeira classe a alguém da classe econômica, mas, dadas as circunstâncias, o comandante considerou que seria escandaloso alguém ser obrigado a sentar-se ao lado de pessoa tão execrável.

E dirigindo-se ao negro, a aeromoça complementa:

- Portanto, senhor, se for de sua vontade, pegue seus pertences que o assento da primeira classe está à sua espera.

E todos os passageiros ao redor que, chocados, acompanhavam a cena, levantaram-se e bateram palmas.


(Autor desconhecido)


P.s.: Quanto à veracidade ou não da história, isso é irrelevante. 

sábado, 12 de março de 2011

Sobre Friedrich Nietzsche

Complexo, contemporâneo e instigante. O pensamento de Nietzsche evoca reflexões, aparentemente, confusas, mas que, em seu alicerce, revelam grande importância para o entendimento e inserção na realidade do mundo, seja ele qual for. No vídeo abaixo, é possível conhecer, através da atraente palestra concedida pela filósofa Viviane Mosé, um pouco sobre a visão desse alemão que é, certamente, um dos filósofos mais estudados e fecundos.

Documentário da TV Cultura


sexta-feira, 4 de março de 2011

É carnaval

Tempo de folia, de alegria. Época em que as pessoas se reúnem sem preconceitos, afirmando suas tradições e culturas, despreocupadas  com a vida mundana. Vivem o hoje, o amanhã e o dia seguinte, apenas. Uma felicidade contagiante que resplandece os becos, as ruas e as avenidas ao som de ritmos autênticos e viscerais.Todo o mundo mira e se inveja com essa grande festa 'prapular'. Realizada por um povo acolhedor, branco, pobre, alegre, preto, rico, folião, mestiço, brasileiro. Uma gente que responde a toda corrupção e banalização política com a sua capacidade de enxergar a vida assim, com vibração. É fato que temos milhões de problemas. Quem os está negando? No entanto, eles não podem corromper. A atenção e  o esforço para resolvê-los precisam, dentre outros, desse escape chamado carnaval. Celebremos essa alegria plural.

Preta festa santa
Santa fé pagã
A alegria dança até de manhã
Luminosa arte, cria de Olodum
Se o amor se reparte, somos todos um


 

quarta-feira, 2 de março de 2011

Senso Crítico



Cada vez com mais frequência, é comum a propagação, na mídia, de discursos aparentemente messiânicos. Em sua grande maioria, acabam utilizando, contraditoriamente, aquilo que está sendo criticado para se estruturarem. Na realidade, também buscam o engrandecimento de suas  imagens e, assim, o fortalecimento de suas instituições. 

Sem assumir partido prévio, acredito que o fundamental é estar atento e acionar, sempre, o senso crítico a todo conteúdo com o qual se tem contato. Se a finalidade principal da mídia é pautada na lógica econômica, e as visadas informativa e de entretenimento ocupam posição periférica, cabe ao seu público refletir sobre isso e formar seus posicionamentos. Mesmo que haja uma instância de produção midiática superior e predominante, ainda há outras instâncias, o que possibilita a comparação, a discussão e o entendimento pessoal dos fatos apresentados. Portanto, não considero sábia a defesa imediata de informações esfuziantes. Um tempo de revisão sempre é oportuno para que as avaliações não se percam nas emoções. 

Nesse contexto, chego à conclusão de que, por mais que, às vezes, a mídia seja incisiva em suas colocações e até parcial, a responsabilidade é, exclusivamente, do receptor da informação. Cabe a ele se posicionar. Principalmente, acerca desses discursos "messiânicos", cujas entrelinhas atiram em suas próprias direções.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Oscar 2011

A produção britânica "O discurso do rei" lidera a competição, com indicações em 12 categorias, incluindo melhor filme, diretor e ator. Também saíram como favoritos "Bravura indômita", com dez indicações, "A rede social" e "A origem", ambos com oito indicações. Em seguida, vêm "O vencedor", que disputa o prêmio em sete categorias, "127 horas", em seis, e "Cisne negro" e "Toy story 3", em cinco.

Na principal categoria do Oscar, melhor filme, competem “A rede social",  “O discurso do rei”, “Cisne negro”, “O vencedor”, “A origem”, “Toy Story 3", “Bravura indômita”, “Minhas mães e meu pai”, “127 horas” e “Inverno da alma”.

Clique aqui e confira os trailers dos indicados ao Oscar 2011.

fonte: G1

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Tempo de Revisão na Educação


Com o passar do tempo, as circunstâncias que abrangem todo o setor da educação têm motivado profundas reflexões. Certamente, as políticas de ensino contribuíram bastante para a situação atual de descompromisso e desrespeito. É preciso destacar que não se trata de uma generalização. Entretanto, a força dessas atitudes tem-se mostrado tão vigorosa que chegamos ao ponto de: crise no sistema de ensino, alunos alienados, professores desmotivados.

É bem verdade que avanços podem ser notados, como maior acesso às universidades, redução de repetência nas escolas. Porém, acerca dessas “melhorias”, questiona-se sobre a efetiva preocupação com aspectos qualitativos ou, meramente, quantitativos. Com base nos noticiários e, sobretudo, a partir de relatos próximos, é conhecimento disseminado que grande parte dos alunos das escolas públicas, em função, principalmente, da política de não retenção, apresenta-se de modo, absolutamente, desinteressado e, em muitos casos, agressivo, por considerar a escola como reduto de suas requisições. Nesse incômodo contexto, os professores são considerados os grandes vilões, pois, como agentes heroicos, devem, a qualquer custo, solucionar todos os problemas da humanidade, em especial dos alunos desavisados. Apagando este pensamento, é fundamental afirmar, confirmar e protocolar que essa tarefa não é apenas sua. Os pais, quase sempre esquecidos e isentados de qualquer culpa, são os protagonistas e, portanto, devem agir de forma a, simplesmente, cumprirem o papel que lhes cabe: educar os seus filhos. Ao passo que isto ocorre, as reais funções da escola podem ser trabalhadas: possibilitar o conhecimento e instaurar a tolerância.

Uma vez que professores e pais cumprem seus papéis, cabe ao Estado agir da mesma maneira, elaborando e executando políticas que visem à qualidade no ensino e, assim, desfaça a mentalidade estreita referente, exclusivamente, a indicadores percentuais.

Finalmente, nesse contexto marcado por ações, inicialmente paralelas, que buscam o bem coletivo, não resta ao aluno outra opção. Então, a partir desse cenário, o meio o corrompe para uma (con) vivência respeitosa, comprometida e satisfatória. Aliás, nada além daquilo que lhe é de direto e dever.

Na direção desses comentários, Alexandre Garcia, jornalista da TV Globo, no telejornal Bom Dia Brasil, de 12/02/11, apresenta, com propriedade, sua reflexão, o que pode ser visto no vídeo abaixo. 


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Doutores da Alegria

Como se sabe, o título 'Doutor' é um reconhecimento àquele que, por ocasião de uma minuciosa pesquisa acadêmica, contribui para a discussão e o avanço da ciência. No entanto, essa honraria é utilizada, ainda, em outra circunstância para a qual se pode atribuir a mesma relevância. Trata-se dos Doutores da Alegria: "uma organização proeminentemente dedicada a levar alegria a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde, através da arte do palhaço, nutrindo esta forma de expressão como meio de enriquecimento da experiência humana; uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que realiza cerca de 75 mil visitas por ano a crianças internadas em hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte".

Portanto, convido você para uma visita e, assim, também admirar esse trabalho que, sem dúvida, merece o título máximo da solidariedade.




sábado, 12 de fevereiro de 2011

Aniversário (Fernando Pessoa)

Cada poema de Fernando Pessoa representa uma oportunidade inigualável de resgatar sensações e provocar ideias. Ciente disso, a partir de hoje, proponho, esporadicamente, visitas a alguns daqueles que considero como os seus mais belos registros. Para iniciar, além do texto primoroso (Aniversário), tem-se a leitura e interpretação apreciativas de Jô Soares. Na certeza de que qualquer comentário seria limitador, passemos, de imediato, para a apresentação.


Para visualizar o poema Aniversário, clique aqui.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Teatro

Apesar do título agressivo, mesmo sendo uma confirmação da teoria semiótica, considero interessantes os comentários tecidos no artigo abaixo acerca da manifestação artística denominada teatro. Se assim é, segue o texto para reflexão.

Teatro como sistema modelizante
por Elinês de AV. e Oliveira

A arte dramática é um objeto semiótico por natureza. O conceito do que entendemos hoje por teatro é originário do verbo grego "theastai" (ver, contemplar, olhar). Tão antiga quanto o homem, a noção de representação está vinculada ao ritual mágico e religioso primitivo. Acredita-se que o teatro nasceu no instante em que o homem primitivo colocou e tirou a máscara diante do espectador, com plena consciência do exercício de "simulação", de "representação", ou seja, do signo.
Tendo em seu alicerce o princípio da interdisciplinaridade, o teatro serve-se tanto da palavra enquanto signo como de outros sistemas semióticos não-verbais. Em sua essência, lida com códigos construídos a partir do gesto e da voz, responsáveis não só pela performance do espetáculo, como também pela linguagem. Gesto e voz tornam o teatro um texto da cultura. Para os semioticistas russos da década de 60, a noção de teatro como texto revela, igualmente, sua condição de sistema modelizante, ou melhor, de sistema semiótico cujos códigos de base - gesto e voz - se reportam a outros códigos como o espaço, o tempo e o movimento. A partir desses códigos, se expandem outros sistemas sígnicos tais como o cenário, o movimento cênico do ator, o vestuário, a iluminação e a música, entre outros. Graças à organização e combinação dos vários sistemas, legados da experiência individual ou social, da instrução e da cultura literária e artística, é que a audiência recodifica a mensagem desse texto tão antigo da cultura humana.
Contudo, o processo de modelização no teatro não é resultado apenas dos códigos que o constituem como linguagem. É preciso considerar também os códigos culturais organizadores dos gêneros, ou melhor, das formações discursivas que se reportam às esferas de uso da linguagem dentro de contextos sócio-culturais específicos. Quando os códigos do teatro se organizam para definir um gênero, é a própria cultura que manifesta seus traços diferenciais. Isso é o que se pode verificar no teatro popular, seja de Shakespeare ou do nosso Ariano Suassuna, cujos autos ilustram muito propriamente o processo da modelização no teatro.

fonte: PUC-SP   

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Tempo de muda

Tempo de muda, por Fernando Henrique Cardoso

Novo ano, nova presidente, novo Congresso atuando no Brasil de sempre, com seus êxitos, suas lacunas e suas aspirações. Tempo de muda, palavra que no dicionário se refere à troca de animais cansados por outros mais bem dispostos, ou de plantas que dos vasos em viveiro vão florescer em terra firme. A presidente tem um estilo diferente do antecessor, não necessariamente porque tenha o propósito de contrastar, mas porque seu jeito é outro. Mais discreta, com menos loquacidade retórica. Mais afeita aos números, parece ter percebido, mesmo sem proclamar, que recebeu uma herança braba de seu patrono e de si mesma. Nem bem assume e seus porta-vozes econômicos já têm que apelar às mágicas antigas (quanto foi mal falado o doutor Delfim, que nadava de braçada nos arabescos contábeis para esconder o que todos sabiam!) porque a situação fiscal se agravou. Até os mercados, que só descobrem estas coisas quando está tudo por um fio, perceberam. Mesmo os velhos bobos ortodoxos do FMI, no linguajar descontraído do ministro da Fazenda, viram que algo anda mal.
Seja no reconhecimento maldisfarçado da necessidade de um ajuste fiscal, seja no alerta quanto ao cheiro de fumaça na compra a toque de caixa dos jatos franceses, seja nas tiradas sobre os até pouco tempo esquecidos “direitos humanos”, há sinais de mudança. Os pelegos aliados do governo que enfiem a viola no saco, pois os déficits deverão falar mais alto do que as benesses que solidarizaram as centrais sindicais com o governo Lula. (...)
Digamos que ela quer ser “elevada”, sem sujar as mãos (ou a língua) nas nódoas do cotidiano nem confundir crítica ao que está errado com oposição ao país (preocupação que os petistas nunca tiveram quando na oposição). Ainda assim, há muito a fazer para corresponder à fase de “muda”.  A começar pela crítica à falta de estratégia para o país: que faremos para lidar com a China (reconhecendo seu papel e o muito de valioso que podemos aprender com ela)? Não basta jogar a culpa da baixa competitividade nas altas taxas de juro. Olhando para o futuro, teremos de escolher em que produtos poderemos competir com China, Índia, asiáticos em geral, Estados Unidos, etc. Provavelmente serão os de alta tecnologia, sem esquecer que os agrícolas e minerais também requerem tal tipo de conhecimento. Preparamo-nos para a era da inovação? Reorientamos nosso sistema escolar nesta direção? Como investir em novas e nas antigas áreas produtivas sem poupança interna? No governo anterior, os interesses do Brasil pareciam submergir nos limites do antigo “Terceiro Mundo”, guiados pela retórica do Sul-Sul, esquecidos de que a China é Norte e nós, mais ou menos. Definimos os Estados Unidos como “o outro lado” e percebemos agora que suas diferenças com a China são menores do que imaginávamos. Que faremos para evitar o isolamento e assegurar o interesse nacional sem guiar-nos por ideologias arcaicas?
(...)
Não basta isso, entretanto, para a oposição atuar de modo efetivo. Há que mexer no desagradável. Não dá para calar diante da Caixa Econômica ter se associado a um banco já falido que agora é salvo sem transparência pelos mecanismos do Proer e assemelhados. E não foi só lá que o dinheiro do contribuinte escapou pelos ralos para subsidiar grandes empresas nacionais e estrangeiras, via BNDES. Não será tempo de esquadrinhar a fundo a compra dos aviões? E o montante da dívida interna, que ultrapassa um trilhão e seiscentos bilhões de reais, não empana o feito da redução da dívida externa?
(...)
Há, sim, muita coisa para dizer nesta hora de “muda”. Ou a oposição fala e fala forte, sem se perder em questiúnculas internas, ou tudo continuará na toada de tomar a propaganda por realização. Mesmo porque, por mais que haja nuances, o governo é um só Lula-Dilma, governo do PT ao qual se subordinam ávidos aliados.

Publicado em 06 de fevereiro de 2011/Nº 9073, pelo Diário Catarinense (edição online)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Experiência

Numa época em que a experiência profissional é vista como algo indispensável e supremo, esse depoimento denuncia o real sentido das nossas competências. A partir dessa leitura, certamente, faz-se oportuno um tempo de revisão.

Trata-se de uma redação produzida por um candidato no processo de seleção da Volkswagen do Brasil, a fim de responder à seguinte questão: “'Você tem experiência?'. O candidato foi aprovado, seu texto circula com grande repercussão pela internet e, fatalmente, será lembrado por sua sinceridade, criatividade, poesia e sensibilidade.

Já fiz cosquinha na minha irmã pra ela parar de chorar.
Já me queimei brincando com vela.
Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto.
Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista.
Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.
Já passei trote por telefone.
Já tomei banho de chuva e acabei me viciando.
Já roubei beijo.
Já confundi sentimentos.
Já peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro.
Já me cortei fazendo a barba apressado.
Já chorei ouvindo música no ônibus.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que eram as mais difíceis de esquecer.
Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas.
Já subi em árvore pra roubar fruta.
Já caí da escada de bunda.
Já fiz juras eternas.
Já escrevi no muro da escola.
Já chorei sentado no chão do banheiro.
Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante.
Já corri pra não deixar alguém chorando.
Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado.
Já me joguei na piscina sem vontade de voltar.
Já bebi uísque até sentir dormente os meus lábios.
Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.
Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso.
Já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.
Já apostei em correr descalço na rua.
Já gritei de felicidade.
Já roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um 'para sempre' pela metade.
Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol.
Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Foram tantas coisas feitas...
Tantos momentos fotografados pelas lentes da emoção e guardados num baú, chamado coração.
E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: 'Qual sua experiência?'Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência... experiência... Será que ser 'plantador de sorrisos' é uma boa experiência? Sonhos!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta: Experiência? Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?


Sem mais.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Vinicius de Moraes

Língua Portuguesa | Vinicius de Moraes - O estilo, a música, as letras e os 30 anos sem o poetinha

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

                      
                    (Vinicius de Moraes)


fonte: www.viniciusdemoraes.com.br

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sentimento do Mundo

Sem qualquer pretensão, ao pensar numa introdução para o poema Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade, acabei me deflagrando com um poema. Assim sendo, resolvi deixá-lo tal qual foi concebido. Em seguida, apresento os dois.


Por mais que se busque por elas, um poema não requer explicações. 
Sim, interpretações.
Por mais que, em algumas situações, elas sejam necessárias,
Elas, nunca, devem ser soberanas.

O poema sugere.
O leitor vive.

                                (Glaysson Emmanuel)


Sentimento do Mundo

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

                                  (Carlos Drummond de Andrade)
                                       fonte: livro Sentimento do Mundo 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tema de pesquisa

De certo, a escolha do tema de uma pesquisa, seja monografia, dissertação ou tese, constitui um momento de grande incerteza e insegurança. Haja vista que é de fundamental importância que esse tema definido consiga, de forma prazerosa, capturar e manter o interesse do pesquisador ao longo de meses ou anos. Nunca se esquecendo, ainda, de que esse empenho, em algumas circunstâncias, como no mestrado e, sobretudo, no doutorado, requer uma dedicação quase exclusiva. Pensando a esse respeito, resolvi pesquisar em busca de algo que orientasse nesse sentido. Então, encontrei o texto "Como escolher um tema de pesquisa", cujo link é apresentado abaixo, que expõe, de maneira sistemática, algumas, certamente as mais relevantes, diretrizes que envolvem esse processo de escolha de tema para pesquisa. Espero que seja mais uma abordagem que contribua para os nossos trabalhos.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Duas imagens para reflexão






<M. C. Escher






           
           
                                                                                                                    P. Brueghel> 
                                                             

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O menino das meias vermelhas


                                                         Carlos Heitor Cony

sábado, 15 de janeiro de 2011

Protagonista

Faz parte do senso comum a ideia de que o protagonista refere-se à personagem principal de uma narrativa, seja obra literária, cinematográfica, televisiva, teatral, etc. Certamente, esse conhecimento encontra respaldo nos pressupostos literários, os quais, além disso, consideram algo que, talvez, passe despercebido para muitos: o protagonista, por sua essência, deve participar de todos os núcleos da narrativa, não apenas do principal, e, portanto, estar envolvido, em absoluto, no enredo da obra. Tendo como material de análise a telenovela, essa última proposição, sobretudo, tem sido verificada cada vez com menos frequência. A escolha por um número extenso de personagens, o que permite a criação de diversos núcleos e, com isso, mais alternativas para agradar ao público, possivelmente, seja a explicação para a "desqualificação" do protagonista, já que, em função da referida opção, ele acaba se mostrando deslocado e, até mesmo, sem oportunidade discursiva para a atuação soberana que lhe cabe. Lamentando essa ocorrência, utilizo este espaço, hoje, para cumprimentar, nesta circunstância, o trabalho realizado pelo autor Silvio de Abreu por sua novela Passione, cujo último capítulo foi exibido ontem. Nesta oportunidade e ao longo de toda a trama, teve-se a oportunidade de observar personagens bem construídas, das quais se destaca a protagonista interpretada, incontestavelmente, por Fernanda Montenegro. Cumprindo as exigências que competem ao protagonista, esta personagem, durante toda a história, apresenta vínculo com todas as personagens e se insere em todos os núcleos. A propósito disso, uma das últimas cenas da novela (vídeo apresentado abaixo) ilustra essa constatação. Na expectativa de que os seus colegas invejem-no, concedo aplausos a Silvio de Abreu. Dessa maneira, torço para que este e outros aspectos tão importantes para a tradição e o futuro da arte não se percam.