sábado, 15 de janeiro de 2011

Protagonista

Faz parte do senso comum a ideia de que o protagonista refere-se à personagem principal de uma narrativa, seja obra literária, cinematográfica, televisiva, teatral, etc. Certamente, esse conhecimento encontra respaldo nos pressupostos literários, os quais, além disso, consideram algo que, talvez, passe despercebido para muitos: o protagonista, por sua essência, deve participar de todos os núcleos da narrativa, não apenas do principal, e, portanto, estar envolvido, em absoluto, no enredo da obra. Tendo como material de análise a telenovela, essa última proposição, sobretudo, tem sido verificada cada vez com menos frequência. A escolha por um número extenso de personagens, o que permite a criação de diversos núcleos e, com isso, mais alternativas para agradar ao público, possivelmente, seja a explicação para a "desqualificação" do protagonista, já que, em função da referida opção, ele acaba se mostrando deslocado e, até mesmo, sem oportunidade discursiva para a atuação soberana que lhe cabe. Lamentando essa ocorrência, utilizo este espaço, hoje, para cumprimentar, nesta circunstância, o trabalho realizado pelo autor Silvio de Abreu por sua novela Passione, cujo último capítulo foi exibido ontem. Nesta oportunidade e ao longo de toda a trama, teve-se a oportunidade de observar personagens bem construídas, das quais se destaca a protagonista interpretada, incontestavelmente, por Fernanda Montenegro. Cumprindo as exigências que competem ao protagonista, esta personagem, durante toda a história, apresenta vínculo com todas as personagens e se insere em todos os núcleos. A propósito disso, uma das últimas cenas da novela (vídeo apresentado abaixo) ilustra essa constatação. Na expectativa de que os seus colegas invejem-no, concedo aplausos a Silvio de Abreu. Dessa maneira, torço para que este e outros aspectos tão importantes para a tradição e o futuro da arte não se percam.

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