Sem qualquer pretensão, ao pensar numa introdução para o poema Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade, acabei me deflagrando com um poema. Assim sendo, resolvi deixá-lo tal qual foi concebido. Em seguida, apresento os dois.
Por mais que se busque por elas, um poema não requer explicações.
Sim, interpretações.
Por mais que, em algumas situações, elas sejam necessárias,
Elas, nunca, devem ser soberanas.
O poema sugere.
O leitor vive.
(Glaysson Emmanuel)
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
mais noite que a noite.
(Carlos Drummond de Andrade)
fonte: livro Sentimento do Mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário